Não
sou nutricionista e nem é a minha proposta expor aqui todos os nutrientes
contidos nos vários alimentos existentes, nem vou dar conselhos sobre
procedimentos alimentares de qualquer espécie, porém, neste pequeno texto quero
levantar de forma breve algumas questões desta visão messiânica do
vegetarianismo e no consumo de determinados alimentos em detrimento de outros
que entendo ser uma questão política. Para isto ficarei voltado para três
questões: como é visto a atitude vegetariana, o consumo de carne como habito
tradicional no Brasil e algumas rápidas implicações políticas que podem girar
em torno do assunto em questão.
Foi
atribuída a carne uma imagem de algo degradante, algo que precisa ser combatido
como uma epidemia que teria o poder de devastar toda a humanidade com suas diabólicas
armadilhas. Também, seria a mesma, uma das “Garotas
Propaganda” do consumismo desacertado que assola e condena a modernidade.
Em contrapartida, a imagem do vegetariano estaria vinculada a um simbolismo ou mais
diretamente a uma atitude ou ação revolucionária. Fica no ar para quem a prática
um gosto de contra o sistema capitalista opressor, sendo visto, especialmente,
como uma atitude política de transgressão. Praticar o vegetarianismo seria para
poucos, para iniciados numa arte bela que singularizaria e daria pompa e status social para seus praticantes.
Entretanto, esta imagem deixa a impressão de algo forçado, direcionando uma
ideia de uma atitude de “a La Cavalo
Paraguaio”!
A
figura do vegetariano exagerada de ensinamento e de boa fé aparece como a “única”
opção para salvar a saúde precária dos brasileiros, porém, alguns pontos teriam
que ser questionados. Vivemos em uma sociedade onde a presença da carne é muito
forte e abundante nas múltiplas formas de hábitos, cultura, religiosidade e da
culinária, pois, a carne é presente no nosso cotidiano. Eu queria questionar a
maioria dos vegetarianos se realmente eles sabem o valor nutricional de cada
alimento da dieta vegetariana que os mesmos consomem e, que tipo de
acompanhamento especializado eles tem, ou se os mesmos ainda procuram
informações para se alimentar de forma “saudável”.
O
problema não é o consumo de qualquer tipo de carne, o consumo controlado desse
alimento teria seus benefícios e malefícios verificados e analisados se
inseridas numa dieta com acompanhamentos especializados de profissionais de
diversas áreas de conhecimento, para assim, o indivíduo saber manusear melhor
esse alimento. Ora, o vegetarianismo tomaria sua prática alimentar como algo
messiânico e solucionador de todos os problemas da saúde, comportamento
alimentar e política do indivíduo.
No
Brasil preservamos determinadas tradições alimentares onde a carne é objeto
constantemente presente em quase todas as formas de culinária de nosso país. Certas
tradições do brasileiro estão ligadas ao consumo da carne entre eles: feijoada
e churrasco, além de serem comidas típicas que servem para reunir pessoas. Somos
direcionados a cosumir carne não só por influências do mercado, mas, por termos
como hábitos consumi no nosso dia a dia alimentos que tem a carne como composto
principal ou complementar. Todos os tipos de carne (carne de boi, porco, aves,
peixe, etc.) são presentes: na feijoada dos domingos, na moqueca de peixe das
sextas-feiras, no macarrão com franco assado, no churrasco que é norteador de
manifestações e festejos de nossa cultura popular como os pagodes na laje entre
outros, desta forma, a carne estar muito forte no nosso imaginário e vida
ordinária.
Alguns
alimentos conhecidos como light e diet tem preços inacessíveis para a
população assalariada. Cereais e grão com baixo teor de colesterol ruim ou
gordura são caros. Nas lojas que vende alimentação saudável muitas vezes estes
produtos tem o dobro do preço dos produtos industrializados e de alta saturação
de gorduras e conservantes.
O
vegetarianismo não passa de mais uma prática alimentar entre muitas existentes
no mundo, e sozinha não solucionaria o problema pelo menos em âmbito nacional
de questionamentos políticos e culturais do Brasil. Podemos aprender novas
formas de lhe dar com o alimento com a cultura vegetariano, entretanto,
respeitando as tradições alimentares brasileiras que sempre foi recheada de
carne de porco, franco e boi principalmente.
O
povo talvez saiba o que é uma comida saudável, porém, sua renda não lhe permite
que pratiquem essa tal alimentação saudável. Também, por não ter política
publicas que realmente der para população conhecimentos e mecanismos para de
acordo com sua renda busquem alternativas baratas para alcança esta tal alimentação
saudável. Mesmo assim, até o que seja alimentação saudável é discutível por
suas aplicações sociais e políticas. O brasileiro também se alimenta com outros
tipos de alimentos como frutas, vegetais e verduras típicas de cada região. Verificamos
pouca divulgação de praticas alimentares ditas saudáveis para população, assim,
não se encontra no nosso país um real incentivo para a prática e aquisição de
alimentos não industrializados, muito pelo contrário, somos massificados todos
os dias através da “Grande Mídia” para que incessantemente venhamos consumir
cada vez maios estes mesmos produtos.
Se
avaliarmos friamente todas as ações públicas sociais e institucionais com
campanhas e mais campanhas sobre hábitos saudáveis visam, antes de tudo, a
preservação por o maior tempo possível de uma mão-de-obra ativa. Ninguém fala
do avanço nas pesquisas sobre o consumo de insetos que teriam proteínas
saudáveis para a raça humana e que este cultivo demanda também poucos hectares
de terras, e baixos valores comerciais em comparação a carne e de alguns
vegetais, claro se não for feito pela Grande
Indústria.
Podemos
verificar também que vários e vários hectares de terras estão destinados para a
especulação imobiliária e para a prática da criação bovina e que a produção de
grãos e cereais na sua maioria estão voltados para a exportação, deixando que
os pequenos produtores fiquem responsáveis por abastecer nosso país na sua
maioria. Altas taxações nos impostos sobre alimento também deixa o alimento
mais caro para a população, desta forma, o Governo/Estado e a “Grande Indústria Alimentícia” monopoliza
e dita o que o povo realmente deve consumi e gostar. Outro ponto de ser
pensado: até este momento no Brasil não teve nenhum avanço político sobre as
questões do uso da terra, sendo a tão sonhada Reforma Agrária mais um capítulo torpe e esquecido de nossa
sociedade.
Como
essa carne é produzida pela indústria também é questionada, porque, mesmo que
existam órgãos governamentais de fiscalização destas produções, desde seu
processo de fabricação até chegar na casa do consumidor, é obscuro para a
maioria da população os procedimentos dessa mesma produção das industrias de
carne, entre outros alimentação industrializada, e os critérios para a liberação
para o consumo.
Temos
que observar também que a vida cada vez mais corrida da Cidade Grande, nos direciona a praticar alimentação nos fast food da vida. E a procurar
alimentação industrializada que é de rápido consumo. Por exemplo: o suco pronto
de caixinha estaria mais ao alcance da população, enquanto isto, as feiras
livres de SSA que são de difícil acesso e não tem o incentivo adequado do Estado para sua preservação e
funcionamento para suprir as necessidades alimentares básicas da população ficam
quase que totalmente esquecidas. É inegável o aumento nos preços de frutas e
verduras que dificultam a sua aquisição e a pouca oferta de alimentos que foram
cultivas sem agrotóxicos e, mesmo assim, quando são encontrados, a população
não consegue compra-lo pelo preço alto e não acessível para o assalariado. Uma
observação: claro que não podemos nos esquecer das inúmeras pequenas feiras de que
existem espalhados pelos bairros de SSA que mesmo com preços mais acessíveis para a população em geral nem todos podem
consumir os produtos que muitas vezes são de péssima qualidade.
Umas anedotas: o custo e o valor
simbólico do produto alimentar é dado através de sua qualidade e que classe
social o consome. Levando em conta o cultivo, todo o fetiche em volta do
alimento, o lugar de sua origem, para quem o produto é direcionado e o
propósito do teu consumo, até se o alimento faz parte de alguma iniciação,
culto ou práticas quem vão desde jantares de alta classe, celebrações
religiosas, festas de vários tipos, etc. Existem produtos praticados e
direcionados para pobres e ricos com qualidades e requinte, diferenciados como
bom e péssimo para as das duas classes, assim, mexe com o imaginário das
pessoas que até para você pertencer à determinada camada social com
determinados gostos e posição social você teria de consumir determinados
produtos, ou seja, comer e gostar de determinados produtos. Uma pergunta: e o
feijão, a rabada, o caruru que hoje em dia são louvados como verdadeiras
iguarias nacionais sempre foram apreciadas e consumidas historicamente por
todas na sociedade sem preconceitos?
Outras
anedotas: hoje em dia também você é identificado com o que você escolhe para
comer sendo na estética ou status social. É consenso errôneo pensar que as
pessoas mais simples não teriam a consciência sofisticada/cientifica de como
cada alimento com suas substancia agiriam no nosso organismo, pois, só
entenderiam a alimentação como uma ração para encher a barriga e nada mais. Temos
tipos de conhecimentos populares onde determinadas enfermidades são combatidas
com tipos diferentes de ervas, plantas, casca de madeiras e alimentações que o
conhecimento cientifico legitima e usa em tratamentos patológicos de diversas
especialidades.
Uma
observação: temos desigualdades regionais de várias naturezas e com seus
inúmeros aspectos no Brasil. Por exemplo: a renda per capital no Nordeste
brasileiro não é a mesma de todo o país (se comparado aos investimentos que
ocorrem no sul sudeste é alarmante o descaso político), vivemos em uma das
regiões mais pobres e desassistidas pelo poder político onde muitas crianças
ainda são desnutridas. Agrava mais a situação com fenômenos climáticos de seca
nesta mesma região que dificulta o acesso de determinadas camadas da sociedade
a uma maior teia de alimentação com seus nutrientes e com a oferta de água
quase que escassa.
Alguns
aspectos positivos o vegetarianismo pode proporcionar com seus questionamentos
nos nossos procedimentos alimentares: como termos acessos as diversas formas
existentes de alimentação? Abri um caminho também para pensarmos como
enxergamos a natureza (relação homem com/na Natureza) e como os animais são
tratados, e como esses são vistos para suprir esta indústria que extrapola o
consumo único e exclusivista da alimentação. Afinal, não só sua carne é
aproveitada, como determinados tipos de couro, o marfim dos elefantes, a
barbatana dos tubarões, entre outros.
Teríamos
que no mínimo ter claro ou pelo menos algumas dúvidas deveriam ser esclarecidas
de como dietas e procedimentos alimentares de qualquer tipo, seja ela carnívora
ou vegetariana, agem e atingem nosso organismo, de que forma estas alimentações
diretamente contribuem para nossa vida na sociedade, seus benefícios e
malefícios e como a população pode manusear os mesmos para a manutenção da própria
saúde.
Por
fim, temos uma rica teia alimentar
compostas por variações regionais de tipos de alimentos, herança direta da
colonização e das diversas etnias e culturas que constituíram historicamente o
Brasil. Poderia abordar várias e várias questões sobre este tema do
vegetarianismo e da alimentação com resposta e possíveis soluções, entretanto,
acho que este tema teria que ser discutidos por vários pontos de vistas
diferentes.
Por
hora lanço algumas questões para serem pensadas: como aproveitar estas
variações alimentares em favor da saúde do brasileiro? Como manusear os vários
tipos de alimentação para termos uma vida mais saudável? Porque não levantar a
questão do que deveria estar inserido numa eventual “Cesta Básica” brasileira
respeitando esta pluralidade regional e étnica de alimentações existentes no
nosso país? Com essa atitude será que não poderíamos começar uma campanha
social de qualificação alimentar? Alimentação será que não é uma questão de
saúde pública?
Controlar
o que comer e como comer não será antes de tudo uma ação política? Será que realmente
todo tipo de alimentação é acessível às pessoas no Brasil? Como viabilizar o
acesso de determinadas dieta para determinadas funções do dia a dia do
indivíduo, como alimentações para recuperar a energia e dar disposição? Para
quê serve determinadas substâncias e sua atuação no nosso organismo? Porque não
pensar em criar lei, projetos institucionais e campanhas para reduzir impostos
e taxações orçamentários sobre os alimentos para, assim, aumentar o acesso da
população em geral a todos os tipos de alimentação?
Para
concluir, não quero com este texto esgotar o debate ou apresentar quaisquer
soluções para mudar uma possível visão que a sociedade tenha sobre o
vegetarianismo. Também não é minha intenção justificar todos os tipos de
práticas alimentares do Brasil. Muito menos ainda tomar posicionamentos ante
todo um ideário sobre a alimentação na sociedade. Antes de tudo, tento com este
texto, somente levantar questionamentos sobre como a alimentação é direcionada
e tratada, nas suas diversas formas e nomenclaturas no nosso cotidiano da
sociedade em geral.
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