segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Esses vegetarianos...



Não sou nutricionista e nem é a minha proposta expor aqui todos os nutrientes contidos nos vários alimentos existentes, nem vou dar conselhos sobre procedimentos alimentares de qualquer espécie, porém, neste pequeno texto quero levantar de forma breve algumas questões desta visão messiânica do vegetarianismo e no consumo de determinados alimentos em detrimento de outros que entendo ser uma questão política. Para isto ficarei voltado para três questões: como é visto a atitude vegetariana, o consumo de carne como habito tradicional no Brasil e algumas rápidas implicações políticas que podem girar em torno do assunto em questão.
Foi atribuída a carne uma imagem de algo degradante, algo que precisa ser combatido como uma epidemia que teria o poder de devastar toda a humanidade com suas diabólicas armadilhas. Também, seria a mesma, uma das “Garotas Propaganda” do consumismo desacertado que assola e condena a modernidade. Em contrapartida, a imagem do vegetariano estaria vinculada a um simbolismo ou mais diretamente a uma atitude ou ação revolucionária. Fica no ar para quem a prática um gosto de contra o sistema capitalista opressor, sendo visto, especialmente, como uma atitude política de transgressão. Praticar o vegetarianismo seria para poucos, para iniciados numa arte bela que singularizaria e daria pompa e status social para seus praticantes. Entretanto, esta imagem deixa a impressão de algo forçado, direcionando uma ideia de uma atitude de “a La Cavalo Paraguaio”!
A figura do vegetariano exagerada de ensinamento e de boa fé aparece como a “única” opção para salvar a saúde precária dos brasileiros, porém, alguns pontos teriam que ser questionados. Vivemos em uma sociedade onde a presença da carne é muito forte e abundante nas múltiplas formas de hábitos, cultura, religiosidade e da culinária, pois, a carne é presente no nosso cotidiano. Eu queria questionar a maioria dos vegetarianos se realmente eles sabem o valor nutricional de cada alimento da dieta vegetariana que os mesmos consomem e, que tipo de acompanhamento especializado eles tem, ou se os mesmos ainda procuram informações para se alimentar de forma “saudável”.
O problema não é o consumo de qualquer tipo de carne, o consumo controlado desse alimento teria seus benefícios e malefícios verificados e analisados se inseridas numa dieta com acompanhamentos especializados de profissionais de diversas áreas de conhecimento, para assim, o indivíduo saber manusear melhor esse alimento. Ora, o vegetarianismo tomaria sua prática alimentar como algo messiânico e solucionador de todos os problemas da saúde, comportamento alimentar e política do indivíduo.
No Brasil preservamos determinadas tradições alimentares onde a carne é objeto constantemente presente em quase todas as formas de culinária de nosso país. Certas tradições do brasileiro estão ligadas ao consumo da carne entre eles: feijoada e churrasco, além de serem comidas típicas que servem para reunir pessoas. Somos direcionados a cosumir carne não só por influências do mercado, mas, por termos como hábitos consumi no nosso dia a dia alimentos que tem a carne como composto principal ou complementar. Todos os tipos de carne (carne de boi, porco, aves, peixe, etc.) são presentes: na feijoada dos domingos, na moqueca de peixe das sextas-feiras, no macarrão com franco assado, no churrasco que é norteador de manifestações e festejos de nossa cultura popular como os pagodes na laje entre outros, desta forma, a carne estar muito forte no nosso imaginário e vida ordinária.
Alguns alimentos conhecidos como light e diet tem preços inacessíveis para a população assalariada. Cereais e grão com baixo teor de colesterol ruim ou gordura são caros. Nas lojas que vende alimentação saudável muitas vezes estes produtos tem o dobro do preço dos produtos industrializados e de alta saturação de gorduras e conservantes. 
O vegetarianismo não passa de mais uma prática alimentar entre muitas existentes no mundo, e sozinha não solucionaria o problema pelo menos em âmbito nacional de questionamentos políticos e culturais do Brasil. Podemos aprender novas formas de lhe dar com o alimento com a cultura vegetariano, entretanto, respeitando as tradições alimentares brasileiras que sempre foi recheada de carne de porco, franco e boi principalmente.
O povo talvez saiba o que é uma comida saudável, porém, sua renda não lhe permite que pratiquem essa tal alimentação saudável. Também, por não ter política publicas que realmente der para população conhecimentos e mecanismos para de acordo com sua renda busquem alternativas baratas para alcança esta tal alimentação saudável. Mesmo assim, até o que seja alimentação saudável é discutível por suas aplicações sociais e políticas. O brasileiro também se alimenta com outros tipos de alimentos como frutas, vegetais e verduras típicas de cada região. Verificamos pouca divulgação de praticas alimentares ditas saudáveis para população, assim, não se encontra no nosso país um real incentivo para a prática e aquisição de alimentos não industrializados, muito pelo contrário, somos massificados todos os dias através da “Grande Mídia” para que incessantemente venhamos consumir cada vez maios estes mesmos produtos.
Se avaliarmos friamente todas as ações públicas sociais e institucionais com campanhas e mais campanhas sobre hábitos saudáveis visam, antes de tudo, a preservação por o maior tempo possível de uma mão-de-obra ativa. Ninguém fala do avanço nas pesquisas sobre o consumo de insetos que teriam proteínas saudáveis para a raça humana e que este cultivo demanda também poucos hectares de terras, e baixos valores comerciais em comparação a carne e de alguns vegetais, claro se não for feito pela Grande Indústria.
Podemos verificar também que vários e vários hectares de terras estão destinados para a especulação imobiliária e para a prática da criação bovina e que a produção de grãos e cereais na sua maioria estão voltados para a exportação, deixando que os pequenos produtores fiquem responsáveis por abastecer nosso país na sua maioria. Altas taxações nos impostos sobre alimento também deixa o alimento mais caro para a população, desta forma, o Governo/Estado e a “Grande Indústria Alimentícia” monopoliza e dita o que o povo realmente deve consumi e gostar. Outro ponto de ser pensado: até este momento no Brasil não teve nenhum avanço político sobre as questões do uso da terra, sendo a tão sonhada Reforma Agrária mais um capítulo torpe e esquecido de nossa sociedade.
Como essa carne é produzida pela indústria também é questionada, porque, mesmo que existam órgãos governamentais de fiscalização destas produções, desde seu processo de fabricação até chegar na casa do consumidor, é obscuro para a maioria da população os procedimentos dessa mesma produção das industrias de carne, entre outros alimentação industrializada, e os critérios para a liberação para o consumo.
            Temos que observar também que a vida cada vez mais corrida da Cidade Grande, nos direciona a praticar alimentação nos fast food da vida. E a procurar alimentação industrializada que é de rápido consumo. Por exemplo: o suco pronto de caixinha estaria mais ao alcance da população, enquanto isto, as feiras livres de SSA que são de difícil acesso e não tem o incentivo adequado do Estado para sua preservação e funcionamento para suprir as necessidades alimentares básicas da população ficam quase que totalmente esquecidas. É inegável o aumento nos preços de frutas e verduras que dificultam a sua aquisição e a pouca oferta de alimentos que foram cultivas sem agrotóxicos e, mesmo assim, quando são encontrados, a população não consegue compra-lo pelo preço alto e não acessível para o assalariado. Uma observação: claro que não podemos nos esquecer das inúmeras pequenas feiras de que existem espalhados pelos bairros de SSA que mesmo com preços mais acessíveis para a população em geral nem todos podem consumir os produtos que muitas vezes são de péssima qualidade.
            Umas anedotas: o custo e o valor simbólico do produto alimentar é dado através de sua qualidade e que classe social o consome. Levando em conta o cultivo, todo o fetiche em volta do alimento, o lugar de sua origem, para quem o produto é direcionado e o propósito do teu consumo, até se o alimento faz parte de alguma iniciação, culto ou práticas quem vão desde jantares de alta classe, celebrações religiosas, festas de vários tipos, etc. Existem produtos praticados e direcionados para pobres e ricos com qualidades e requinte, diferenciados como bom e péssimo para as das duas classes, assim, mexe com o imaginário das pessoas que até para você pertencer à determinada camada social com determinados gostos e posição social você teria de consumir determinados produtos, ou seja, comer e gostar de determinados produtos. Uma pergunta: e o feijão, a rabada, o caruru que hoje em dia são louvados como verdadeiras iguarias nacionais sempre foram apreciadas e consumidas historicamente por todas na sociedade sem preconceitos?
            Outras anedotas: hoje em dia também você é identificado com o que você escolhe para comer sendo na estética ou status social. É consenso errôneo pensar que as pessoas mais simples não teriam a consciência sofisticada/cientifica de como cada alimento com suas substancia agiriam no nosso organismo, pois, só entenderiam a alimentação como uma ração para encher a barriga e nada mais. Temos tipos de conhecimentos populares onde determinadas enfermidades são combatidas com tipos diferentes de ervas, plantas, casca de madeiras e alimentações que o conhecimento cientifico legitima e usa em tratamentos patológicos de diversas especialidades.
            Uma observação: temos desigualdades regionais de várias naturezas e com seus inúmeros aspectos no Brasil. Por exemplo: a renda per capital no Nordeste brasileiro não é a mesma de todo o país (se comparado aos investimentos que ocorrem no sul sudeste é alarmante o descaso político), vivemos em uma das regiões mais pobres e desassistidas pelo poder político onde muitas crianças ainda são desnutridas. Agrava mais a situação com fenômenos climáticos de seca nesta mesma região que dificulta o acesso de determinadas camadas da sociedade a uma maior teia de alimentação com seus nutrientes e com a oferta de água quase que escassa.  
            Alguns aspectos positivos o vegetarianismo pode proporcionar com seus questionamentos nos nossos procedimentos alimentares: como termos acessos as diversas formas existentes de alimentação? Abri um caminho também para pensarmos como enxergamos a natureza (relação homem com/na Natureza) e como os animais são tratados, e como esses são vistos para suprir esta indústria que extrapola o consumo único e exclusivista da alimentação. Afinal, não só sua carne é aproveitada, como determinados tipos de couro, o marfim dos elefantes, a barbatana dos tubarões, entre outros.
Teríamos que no mínimo ter claro ou pelo menos algumas dúvidas deveriam ser esclarecidas de como dietas e procedimentos alimentares de qualquer tipo, seja ela carnívora ou vegetariana, agem e atingem nosso organismo, de que forma estas alimentações diretamente contribuem para nossa vida na sociedade, seus benefícios e malefícios e como a população pode manusear os mesmos para a manutenção da própria saúde.
Por fim, temos uma rica teia alimentar compostas por variações regionais de tipos de alimentos, herança direta da colonização e das diversas etnias e culturas que constituíram historicamente o Brasil. Poderia abordar várias e várias questões sobre este tema do vegetarianismo e da alimentação com resposta e possíveis soluções, entretanto, acho que este tema teria que ser discutidos por vários pontos de vistas diferentes.
Por hora lanço algumas questões para serem pensadas: como aproveitar estas variações alimentares em favor da saúde do brasileiro? Como manusear os vários tipos de alimentação para termos uma vida mais saudável? Porque não levantar a questão do que deveria estar inserido numa eventual “Cesta Básica” brasileira respeitando esta pluralidade regional e étnica de alimentações existentes no nosso país? Com essa atitude será que não poderíamos começar uma campanha social de qualificação alimentar? Alimentação será que não é uma questão de saúde pública?
Controlar o que comer e como comer não será antes de tudo uma ação política? Será que realmente todo tipo de alimentação é acessível às pessoas no Brasil? Como viabilizar o acesso de determinadas dieta para determinadas funções do dia a dia do indivíduo, como alimentações para recuperar a energia e dar disposição? Para quê serve determinadas substâncias e sua atuação no nosso organismo? Porque não pensar em criar lei, projetos institucionais e campanhas para reduzir impostos e taxações orçamentários sobre os alimentos para, assim, aumentar o acesso da população em geral a todos os tipos de alimentação?
Para concluir, não quero com este texto esgotar o debate ou apresentar quaisquer soluções para mudar uma possível visão que a sociedade tenha sobre o vegetarianismo. Também não é minha intenção justificar todos os tipos de práticas alimentares do Brasil. Muito menos ainda tomar posicionamentos ante todo um ideário sobre a alimentação na sociedade. Antes de tudo, tento com este texto, somente levantar questionamentos sobre como a alimentação é direcionada e tratada, nas suas diversas formas e nomenclaturas no nosso cotidiano da sociedade em geral.

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