quinta-feira, 24 de março de 2011

Dilma e seu discurso (carta aos camaradas)

Neste texto eu não vou fazer análise política de especialista sobre o que tem por trás do discurso de posse de Dilma, vou escrever algumas breves palavras como um cidadão brasileiro comum e modesto. Um depoimento meu sem acusações ou afirmações precipitadas!

Em 01/01/11 quem não estava na praia ou em outro point de lazer curando a ressaca de Reveillon pôde acompanhar a cerimônia de posse da primeira mulher Presidente do País: Dilma Rousseff.  O que me chamou a atenção na cerimônia foram os discursos emocionados que Dilma fez. Dilma esboçou um discurso racional, conveniente, frio, calculado e bem articulado.

 Ela falava em esperança, em melhorias sociais, em tentar acabar com a fome, em moradia para todos, entre outros... Não sou entendido em assuntos políticos e nem tenho “capacidade intelectual” para entender todas as articulações que este discurso de Dilma esconde, porém, este discurso para um cara leigo como eu abre portas para pensar num novo momento do Brasil, um momento de esperança, um momento em que eu, um cidadão comum, poderá ser amparado pelo meu País, onde vou ser inserido em algo, momento de transição que aos cidadãos simples e normal sejam assistidos pelos nossos representantes políticos, que não só uma camada social tenha certezas.

Dilma não é carismática, tem jeito Europeu, militante na juventude, exilada na Ditadura Militar, dizem os entendidos na arte da política que ela foi eleita à sombra de Lula, o seu antecessor, que no desgaste dos Mensalões e dinheiro na cueca ela sendo sua ministra, em tempos de governo, foi uma das poucas figuras do PT que teve sua imagem preservada.  Mas, o que importou em primeiro lugar foi o fato dela ser a primeira mulher a assumir o maior cargo do País.

Vários chefes de Estado do mundo todo, Partidos de Direita e Esquerda como uma confraria estavam lá para ver este dia histórico. Choveu neste dia de festividade, a chuva parecia protestar contra o espetáculo, parecia que ela, a chuva, queria nos avisar ou nos deixar alerta sobre algo que poderia acontecer de ruim, talvez seja um delírio meu talvez seja uma fantasia, uma face negativa, um pensamento pessimista de velhos novos ventos. Um presságio, ou simplesmente a minha ignorância política manifestando-se.

Sei que a maioria das propostas ouvidas no discurso de Dilma não vão ser cumpridas, afinal temos uma oposição forte que há muito tempo junto com o governo deixou de ser brasileira para ser especuladora e fantoche do comércio internacional. Porém se Dilma conseguisse pelo menos cumprir um pouco do que ela prometeu no seu discurso, que maravilha... Ela não imaginaria quantos sorrisos iam da lugar a lágrimas angustiantes de um dos povos mais pobres do mundo, daria verdade e sentido popular ao que ela discursava e este mesmo discurso não se perderia em palavras bonitas e comoventes.

Teve um ponto positivo para as feministas e para o Brasil é claro, foi nomeado mais mulheres nos Ministérios Nacional. Ah... Só uma lembrança sem importância: ninguém fala mais no aumento abusivo do salário dos parlamentares.

Vejo nos meios de comunicação cientistas políticos, jornalistas, Políticos das diversas correntes partidárias, em seus fantásticos “palavrórios” em códigos que só eles mesmos entendem, tentando retirar do discurso de Dilma fragmentos para comentarem, clarear os detalhes obscuros, fazer um jogo de exegeses e interpretações a marquem de qualquer influência que eles possam ter, e o povo no meio disso tudo ouvindo estes especialistas e suas palavras enigmáticas sempre incompreensíveis.

Para finalizar este depoimento lembro que todo momento de glória uma musa faz-se presente inspirando e trazendo beleza e na posse de Dilma não foi diferente, Marcela Temer a esposa do vice-presidente foi à figura principal do espetáculo, esbanjando simpatia com um sorriso enfadonho foi o motivo maior dos comentários, afinal a mídia tinham que vender revistas e chamar atenção dos telespectadores de alguma forma. Afinal com uma tatuagem na nuca e um penteado pouco convencional são requisitos suficientes para ser a principal figura deste dia ímpar para o Brasil mesmo que nossa musa não tenha dito nada em nenhum momento da cerimônia.
 
Esperamos que Dilma a protagonista do País líder economicamente da América do Sul não conduza de forma novelesca nosso Brasil da mesma forma que encenou no dia de sua posse e, que ao menos saiba o que esta acontecendo com o seu País, coisa que Lula malandramente deixou de saber.

terça-feira, 22 de março de 2011

Convite

E quando a viola gemer nas mãos do seresteiro na rua trepidante da cidade mais agitada, não tenhas, môça, um minuto de indecisão. Atende ao chamado e vem. A Bahia te espera para sua festa quotidiana. Teus olhos se encharcarão de pitoresco, mas se entristecerão também ante a miséria que sobra nestas ruas coloniais onde começam a subir, magros e feios, os arranha-céus modernos.

Ouves? É o chamado insistente dos atabaques na noite misteriosa. Se vieres êles tocarão mais alto ainda, no poderoso toque do “chamado do santo” e os deuses negros chegarão das florestas d’ África para dançar em tua honra. Com seus vestidos mais belos, bailando os mais doidos bailados. E os yauôs cantarão em nagô os cânticos de saudação.

Os saveiros abrirão as velas e rumarão para o mar largo de tempestades. Do forte velho virá música antiga, valsa esquecida que só o ex-soldado recorda. Os ventos de Iemanjá serão apenas uma doce brisa na noite estrelada. O rio Paraguaçu murmurará teu nome e os sinos das igrejas de repente tocarão Ave-Maria apesar de que o crepúsculo já passou em sua desesperada tristeza.

Na Feira de Água dos Meninos, nos pobres pratos de flandres o sarapatel te espera, escuro e gostoso. Os potes e as moringas de barro que comprarás, as rêdes para a sesta, as inhames e aipins, as frutas coloridas. Se vieres, a feira terá outra animação, bebermos cachaça com ervas aromáticas.

Os sobradões te esperam. Os azulejos chegam de Portugal e desbocam hoje ainda mais belas. Lá dentro a miséria murmura pelas escadas onde os ratos correm, pelos quartos imundos. As pedras com que os escravos calçavam as ruas, quando o sol as ilumina ao meio-dia, têm laivos de sangue. Sangue escravo que correu sobre elas nos dias de ontem. Nos casarões moraram os senhores de engenho. Agora são os cortiços mais abjetos do mundo.

Verás as igrejas, grávidas de ouro. Dizem que São trezentas e sessenta e cinco. Talvez não sejam tantas, mas que importa? Onde estará mesmo a verdade quando ela se refere a esta cidade da Bahia? Nunca se sabe bem o que é verdade e o que é mentira nesta cidade. No seu mistério lírico e na sua trágica pobreza, a verdade e a lenda se confundem. Se subires o Tabuão, de mulheres que já perderam a última parcela de sensibilidade, nos quintos-andares de prédios aleijados, nunca saberás ao certo se é uma rua maravilhosa de pitoresco, com suas janelas coloniais e suas portas centenárias, ou se é apenas um hospital enorme, sem médicos, sem enfermeiras, sem remédios. Ah!, môça, esta cidade da Bahia é múltipla e desigual. Sua beleza eterna, sólida como em nenhuma outra cidade brasileira, nascendo do passado, rebentando em pitoresco no cais, nas macumbas, nas feiras, nos becos e nas ladeiras, sua beleza tão poderosa que se vê, apalpa e se cheira, sua beleza de mulher sensual, esconde um mundo de miséria e de dor. Môça, eu te mostrarei o pitoresco mas te mostrarei também a dor.

Vem e serei teu cicerone. Juntos comeremos no Mercado sobre o mar o vatapá apimentado e a doce cocada de rapadura. Serei teu cicerone. Mas, não te levarei, apenas, aos bairros ricos, de casas modernas e confortáveis, a Barra, Graça, Vitória e Nazaré. Iremos nos piores bondes do mundo para a Estrada da Liberdade, onde descobrirás a miséria oriental se repetindo naqueles casebres do Japão e da China, te levarei aos cortiços infames.

Êsse é bem um estranho guia, môça. Com êle não verás apenas a casca amarela e linda da laranja. Verás igualmente os gomos podres que repugnam ao paladar. Porque assim é a Bahia, mistura de beleza e sofrimento, de fartura e fome, de risos álacres e de lágrimas dolorosas.

Quando a viola gemer nas mãos do seresteiro, nascido na Bahia e cheio da sua poesia, não reflitas sequer. Môça, a Bahia te espera e eu serei teu guia pelas suas ruas e pelos seus mistérios. Teus olhos se encherão de pitoresco, teus ouvidos ouvirão histórias que só os baianos sabem contar, teus pés pisarão sobre os mármores das igrejas, tuas mãos tocarão o ouro de São Francisco, teu coração pulsará mais rápido ao bater dos atabaques. Mas, môça, estremecerás também muitas vezes e teu coração se apertará de angústia ante a procissão fúnebre dos tuberculosos na cidade de melhor clima e de melhor percentagem de tísicos do Brasil. A beleza habita nesta cidade misteriosa, môça, mas ela tem uma companheira inseparável que é a fome.

Se és apenas uma turista ávida de novas paisagens, de novidades para virilizar um coração gasto de emoções, viajante de pobre aventura rica, então não queiras esse guia. Mas se queres ver tudo, na ânsia de aprender e melhorar, se queres realmente conhecer a Bahia, então, vem comigo e te mostrarei as ruas e os mistérios da cidade do Salvador, e sairás daqui certa de que este mundo está errado e que é preciso refazê-lo para melhor. Porque não é justo que tanta miséria caiba em tanta beleza. Um dia voltarás, talvez, e então teremos reformado o mundo e só a alegria, e a saúde e a fartura caberão na beleza da imortal Bahia.

Se amas a humanidade e desejas ver a Bahia com olhos de amor e compreensão, então serei teu guia. Riremos juntos e juntos nos revoltaremos. Qualquer catálogo oficial, ou de simples cavação, te dirá quanto custou o Elevador Lacerda, a idade exata da Catedral, o número certo dos milagres do Senhor do Bonfim. Mas eu te direi muitos mais. Junto com o pitoresco e a poesia te direi da dor e da miséria.

Vem, a Bahia te espera. É uma festa e é também um funeral. O seresteiro canta seu chamado. Vou mandar que batam os atabaques e os saveiros partam em sua busca no mar. Serão a doce brisa e os ventos e as palmas dos coqueiros que te saudarão das praias.
                
          Vem, a Bahia te espera!

Texto introdutório (prefácio) do livro Bahia de todos os Santos (guia das ruas e dos mistérios da cidade de Salvador) de Jorge Amado.   

Calourosa da UFBA 2011 parte dois (como dizer algo de alguma coisa)

Politicamente correto para muitos é prazer, conflitos e paixões, para outros um mero modo de esconder algo que se pensa!

Nem toda ideia mesmo aquelas comum a todos são passives de ser ditas, pois, o que queremos que o outro diga são formalidades, e não fuja muito do que meus ouvidos não já tenham ouvido ou queira ouvir.

Pode haver interpretações raivosas sobre uma pessoa que diz algo tão imaturo (“verdadeiras”, mas, impertinente), que ela é clichê, que está se expondo muito! Afinal para progredi no meio que almeja e participa existem sutilezas fantasmas, códigos de conduta estabelecidos para gente ingênua e de pouca capacidade intelectual dê um passo a frente as suas reflexões infames. Verdades pessoas que merecem nenhuma atenção, talvez pelo modo da abordagem, ou pelo publico já envenenado por folhetins de velhos contos de fadas!

Para que então da atenção a alguém tão sem expressão como muitos que vagam por ai sem uma platéia para saudá-lo? Se o erro é generalizar as coisas então como separar indivíduos em uma sociedade que cada vez mais se tornam tão iguais mesmos nas suas pluralidades mais intimas? Será fazendo a pedagogia sem conceituação, aquela de slogan das Faculdades de Educação? Será sempre separando nossos anseios em entidades diversas como o Feminismo por exemplo? Marx e outros pensadores, será que eles não generalizaram? Será que algum dia foi feito um senso de cada pessoa do mundo para saber suas ideias tolas, salutares e até românticas? Ou escolheram sabiamente alguns observadores da vida humana para se tornarem seu porta voz intransigentes?

Certas respostas contrarias a certas posturas não podem ser dadas pela simples conseqüência de você não se perder nelas! Um homem sociável tem que ser conduzido pela sua sociedade a mãos de ferro! Preferível que este homem fique num circulo de repetições de comportamento mais respaldado por algum grupo social, pois, infringindo isto a força perversa das convenções te deixará na margem de qualquer lugar.  

segunda-feira, 21 de março de 2011

Calourosa da UFBA 2011

Hoje fiz uma leitura da Calourosa 2011 da UFBA! Nada sofisticado, pois, nesta recepção aos novos alunos da nossa Universidade o importante é mostrar logo de cara aos mesmos todo o descaso.

Faço uma leitura daquilo que me diverte muito mais que a música que toca, porque, sem contar que num determinado momento, a sua companhia interessante achou algo melhor para fazer, pois, entre entorpecentes lícitos ou não aquele/a companhia chata que só mesmo nas horas do desespero decide que você será a sua companhia até o fim da noite.

Observo ao meu redor e vejo algumas coisas: um público chatinho sendo obrigado a dividir espaço com bichas pão com ovo concentradas no PAF I, um monte de donzelos da Politécnica olhando para bunda das menininhas, os Emos da Facom bebendo Redbull e desfilando de All Star, o povo de Dança inventando coreografias para música falada, o povo de arte declamando poesias, e os da Escola de Música tocando violão no teu show particular nos cantos do espetáculo, os grupos e entidades políticas tentando angariar membros e o DCE fazendo lavagem cerebral na galera, os tarados de São Lázaro tentando se passar por mauricinhos e o melhor: um monte de vacas vacinadas fazendo charminho de mocinha tentando achar um macho para esquentar o que já está pegando fogo, os alunos de Medicina e Direito - mesmo aqueles pobres ficam horrorizados com o espetáculo - as mal-amadas de Pedagogia precisam ir para casa cedo senão vão perder a Missa das 7 e o pedido todo mundo sabe qual é: Homem! Os de Odonto só se preocupam com o preço das suas ferramentas, as de enfermagem têm que sempre imitar as de Direito e de Medicina na pose. É muita atração num único lugar!

Mas isto para um primeiro impacto é para esconder alguns problemas sem importância da nossa saudosa Universidade: falta de salas de aula e professores, nenhuma segurança, obras super faturadas e inacabadas, bolsistas de Iniciação Científica como empregados e capachos de professores, Docentes semi-deuses  e servidores que o melhor que podem fazer é brigar em disputas sindicas (com ressalvas é claro), e a Assistência Estudantil confere bolsas para galera que tem carro e mora em bairros nobres. O serviço médico com residentes indispostos a melhorar suas performances no atendimento ao público que certamente, ao menos uma vez, marcará uma consulta com o psicólogo.

Uma coisa é certa: a música, o momento e a festa serão facilmente esquecidas pela grande maioria, que - diga-se de passagem - não são calouros. O grande evento será lembrado apenas durante a ressaca daqueles que tomarão uma cachaça mal fumada, das piriguetes que conseguirão fisgar um babaca para pagar uma breja e claro: por aqueles que irão exibir uma mochilinha cinza, sem graça e uma agenda de papel reciclado que só reafirma um pensamento arcaico e ultrapassado desta instituição que insiste em reciclar a mesmice de calouros se achando a cereja do bolo e os veteranos tendo a certeza de que são as moscas que pousam na cereja deste bolo, que diga-se de passagem é doido.