sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Dia comum

Mais um dia cinzento qualquer que se inicia;
Acendo um cigarro para ajudar a pensar;
Fecho os olhos para perfeitamente me deliciar com a agonia das minhas vísceras;
Para sentir todas as dores que estão rasgadas no meu corpo todo;
Na minha frente sobre a mesa uma garrafa cheira de vinho;
Tantos sentimos ruins destroçam o pouco de alegria que possa ter;
Esperanças e sonhos há muito tempo estão na lápide que minha vida é;
Tudo se repete em uma dança diabólica.

Minha própria imagem é desprezível;
Minha maior nostalgia é sabe que;
Todos meus gostos e interesses são sempre os mais degradantes possíveis;
O ar me sufoca;
As pessoas me enojam;
Só caminho entre doenças e desespero;
Sempre é o mesmo gosto amargo de viver;
É como se eu tivesse numa caixa;
A sensação é de estar sempre no mesmo lugar.

Pego o vinho em cima da mesa;
Dou uma bela colada;
Dou outra tragada no cigarro;
Olho para o relógio e as horas parecem que não passam nunca;
Fecho os olhos e ouso o nervoso silêncio que paira no ar;
Mais um dia de calor infernal;
Ninguém perto para fazer uma piada cretina;
O que resta é sorrir do belo filho da puta que sou.

A noite lá bem no canto da sala do antro que é minha casa;
Meu rádio toca como sempre as mesmas músicas vagabundas;
O que sobrou para comer foi um pedaço de bife estragado;
Sinto um tesão descomunal;
Nem tem uma bela de uma prostituta ou uma mulher qualquer;
Pra dar uma bela de uma trepada bem bem gostosa.

Percebo que o clima estar tenso;
Sinto na minha boca o gosto inconfundível da morte;
A morte me quer eu sei;
Todos os dias ela fala comigo;
Diz que tem um mundo de maravilhas me esperando;
Acabam os cigarros e o vinho;
E a noite segue com a mesma rispidez de outrora;
E eu aqui nessa mesma merda de existência.

Música Popular




Queria que este pequeno texto fosse enxergado como uma provocação para podermos refletir sobre o papel da música dita como popular na nossa sociedade brasileira atual. Abordando aspectos da cidade de Salvador analisando alguns dos supostos alicerces para o barulho nosso de cada dia na cidade de salvador, ressaltando assim entre outras questões, como esta música é vista e consolidada em nossa sociedade.

1 – Música e desenvolvimento histórico no Brasil

Música popular não é só domino técnico de harmonias e arranjos para apreciamos suas experiências sonoras como era concebido a música europeia clássica. Ou para fortificar cultos religiosos em varias sociedades antigas, ou ainda, parte integrante da pedagogia formadora de determinada sociedade. Na Era Moderna a música popular tornou-se uma extensão do homem, também, tornou-se expressão cultural e mecanismo de passar mensagens culturais diversas, pois, pela sua resposta rápida para quem recebe ela de longe é a mais bem sucedida em relação a outros tipos de arte como a pintura ou as artes plásticas, por exemplo, que requer certos conhecimentos teóricos para serem entendidas. Sons repetitivos que penetram em nossos sentidos devido a repetições harmônicas bem simples, músicas que privilegiam as letras (canções), arranjos e harmonizações feitos com qualquer instrumento musical como os mais populares que “não requer” um estudo muito sofisticado e são os mais fáceis de serem adquiridos na nossa população como é o caso do violão, sanfona, instrumentos percussivos, cavaquinho, também nossa herança tribal e campestre que utiliza a música para legitimar suas raízes, etc. Facilita a aproximação do povo com a música popular. Música popular mesmo sem querer passar nada de mensagens, porem, como ela é trabalhada, desenvolvida tecnicamente para quem a compõe pode nos passar todo tipo de emoções, amor como ouvimos uma música romântica, raiva quando ouvimos Heavy Metal, libidinagens como ouvimos MPB, ou protesto ao ouvir Rap, da vida campestre da música sertaneja, alegria no Axé Music. 


Um povo como o nosso que teve durante toda sua construção histórica uma educação precária e desigual entre as camadas sociais mais pobres adotou a música popular como sua principal manifestação artística e "choro" do teu próprio cotidiano (música como modo de vida), deste jeito, a música para um país como o Brasil passa a ser uma referência de teu íntimo, substituindo assim a educação formal em alguns aspectos na formação cultural e social do cidadão. A música popular é uma das formadoras do Ser ordinário social do Brasil. A música popular tem a característica de ser uma manifestação artística de entendimento rápido entre o destinatário e remetente, logo, esta harmonização sonora "simplória" muitas vezes suplanta a suposta mensagem que a música pode querer passar, tem ainda o lado plástico experimental que os sons brincam e mexem com nossas racionalidades. Na música popular o povo pobre até certo ponto se identifica como pertencente a algo e onde este mesmo povo pobre ganha voz e visibilidade dúbia
 
A música popular nestes aspectos citados acima e entre muitos outros por não precisar necessariamente de uma reflexão contundente e crítico ou dar alento as nossas angústias ou desejos variados, substitui a educação institucionalizada de nosso povo.  As camadas dominares usa este meio para castrar o povo e manter todo mundo conformado com sua situação de miséria social, mas, se a música popular for vista como mero entretenimento ou mero mecanismo de prazer, conceitualmente ela não terá preocupação ou poder incisivo de passar mensagens que tenham algum valor relevante pra construção de reflexões sofisticados e importante para o aprimoramento crítico social. É desta forma que se serve as camadas dominantes de nossa sociedade!

A música popular clássica muitas vezes de influência Europeia ou estrangeira em geral, remete a todo um arcabouço de sofisticação de quem a faz e a consome, ela é feita pela parte dita dominante da sociedade, logo, concebida como idealismo ou baluarte de afirmações preconceituosas, ela é sempre o parâmetro de analise e comparação do que seja bom para ouvir, um exemplo disto é o surgimento da Bossa nova como a salvação, resgate ou refinamento do samba visto como uma música arcaica e primitiva até então pela elite Brasileira.

As camadas pobres de nossa sociedade em sua grande parte muitas vezes sem enxergar ou terem consciência disto, endeusam esses músicos populares esperando respostas para suas mazelas sócias, sempre circulando em reflexões de cunho ativadores de protestos, minimizador de angústias ou entretenimento, porem, a música para este papel seria um dispositivo, uma maneira rápida para mostrar qualquer tipo de conhecimento ou prazer, pois, ela como arte não é responsável por entender ou refletir a nossa sociedade. Qualquer tipo de construção ou virada cultural em uma dada historia do ser humano na sociedade toma a música popular como mero mecanismo de proliferar deste novo momento. Assim a música popular seria um dispositivo facilitador de norteador de todo tipo de conhecimento.

         Por fim a algumas contradições na música popular pra o brasileiro ou qualquer povo ocidental, ela aliena por não ter a necessidade de dar respostas criticas para nada no mundo,ela se mantém como mecanismo norteador de manifestação de uma determinada cultura de uma sociedade e de outro lado serve como legitimação de privilégios de camadas dominantes de nossa sociedade!

2- Algumas questões sociais em Salvador sobre a música.

É irritante e complicado suportar o barulho o dia inteiro dos aparelhos auditivos portáteis, batuques em ônibus, sons de carros, pregação religiosas pelas ruas, sons de bares e das caixas de som dos vizinhos em alguns bairros e por toda parte de Salvador, pois, para eles nada de ruim perpassa esta atitude de barulho intermitente. Tipo de comportamento geralmente apontado para os cidadãos da periferia, mas, é válido percebermos que também nos bairros de classe média em Salvador é crescente estes comportamentos, porque, os ícones músicas são os mesmos para todos, e por ter durante o ano  diversos tipos de festivais de música popular de fácil acesso a população que fortificar estes comportamentos.

Por entender que a principal referencia cultural popular em nossa cidade é a música, concebo que estamos inseridos num panorama musical onde esta expressão artística dita comportamentos e modos de convívios sociais (em todas as camadas da pirâmide social), um dispositivo de poder e de opressão a servido do Estado ou de forças políticas para manter certos comportamentos de conformismo na nossa sociedade, tanto na classe operária quanto na classe média sofrem estas influências, assim, ocorre à generalização deste conformismo por todos os cantos da cidade.

O povo sente-se representado pela música popular para além da mensagem que é supostamente transmitida ela esconde comportamento que os setores de dominação social desejam que o povo tenha para permanece no teu estagio de submissão, exemplo disto é o Pagodão Baianos que começou como uma manifestação cultural dos anos 2000 para dar voz e visibilidade às mazelas do gueto e dos bairros pobres, que hoje em dia com a popularidade deste estilo musical, sofreu transformações e o Pagodão Baiano é visto como música de vagabundo, de gente marginalizada.  Mas não devemos esquecer que esta música popular serve como inclusão social de pessoas marginalizadas, narra histórias e preserva de alguma formar manifestações tradicionais da nossa cidade. Órgão de respaldo em toda cidade de Salvador devido a usa história de formação e inclusão social da população pobre e negra como Olodum, Malê,Ilê Aiyê, Pracatum, entre outros desenvolvem projetos sociais muito antigos e consolidados oferecem não só formação profissional em música, também em outras áreas de atuação profissional.
            
            Questões políticas e estruturais que vem perdurando nossa cidade durante toda sua história como má gestão dos poderes políticos, um dos piores IDH do país, o aumento do desemprego, precária mobilidade urbana, manutenção de um comportamento histórico de descompromisso com o que é público, Falta de espaços e de opções de lazer em toda cidade, individualização elevada, Sistema Educacional regional sucateado, massificação midiática de uma ideia de eterna busca pela felicidade entre outros, norteiam a vida cotidiana de nossa cidade e dar suporte a este tipo de comportamento incomodativo em relação aos barulhos que as pessoas fazem em Salvador de um modo geral. 

Por fim, para pensar estes problemas do barulho em Salvador, podemos ser levantas para facilitar a compreensão do assunto abordado ou ser um bom caminho para descobrimos saídas deste incomodo que atinge toda cidade deixar algumas perguntas no ar assim: como o nosso Estado se desenvolveu na sua história? Como este comportamento social foi construído e para quais motivos?  Terá soluções a médio e longo prazo? Tendo soluções quais seriam? É relevante para Salvador pensar estes assuntos?