O Sagrado, o Profano e o Filosófico, conceitos diferentes que no dia de celebração unem-se numa atmosfera de brincadeira e libidinagem. Longe de perceber o poder político que uma festa desta simboliza como a supremacia de uma ideologia religiosa sob outra legitimada através da ignorância do povo ou pela sociedade do espetáculo que vivemos neste momento histórico, mesmo assim, o que importa mesmo é flertar. Olhos Antropológicos e sorridentes passeiam entre o publico sem se envolverem, observam os mínimos detalhes comportamental dos corpos no auge do sincretismo vulgar, pois, é pitoresco ver a tradição injetada de maneira peculiar ágrafa e midiática sem nenhum aprofundamento epistemológico. Como toda celebração antiga preserva laços de ancestralidade mesmo os herdeiros desta tão famigerada ancestralidade não saibam seu sentido, seu significado.
O louvor ao Deus Cristão e aos Orixás apequenasse diante do bater dos corpos, desejosos por sexo banhasse numa loucura interminável com rios de cerveja e outras substâncias, e o olhar humano masculino e feminino direcionam-se sua atenção aos movimentos sinuosos das curvas dos outros corpos envolvidos nesta mesma atmosfera de libidinagem. São Roque e Obaluaiê as entidades divinas homenageadas se materializados neste dia de sincretismo libidinoso presenciariam uma alegria, um momento de distração, uma fuga de toda pobreza e toda miséria de um povo carente por dignidade, uma droga necessária para se entorpecerem de uma esperança de mudanças vazia e má formuladas de uma moralidade conturbada e animalesca, observaria também pessoais que não se preocupam com nada, que não sofrem pelo outro, pois, não falta dinheiro para comprar o acarajé e a cerveja mesmo subfaturados pelos impostos e pelos ambulantes, gente de boa ou má fé.
Presenciariam ainda toda construção cultural, toda decadência do sentido de ser humana e toda embriaguez que seus representantes ilustres ou não (conhecedores ou charlatões dos dogmas religiosos) preservam com uma frivolidade impar, pois, estes sacerdotes convictos de seu papel de pastores da fé cultista sacra envolvem-se no jogo de conservadorismos dos teus interesses sociais e políticos que se alguma mensagem de benevolência, caridade, fraternidade existe realmente perdem-se como sempre em grandiosos espetáculos de “Pão e Circo” para acalmar o povo. Todas as etnias se fazem presentes e com elas todas as diferenças se manifestam, estas diferentes etnias se comem se desejam se possuem, misturam-se sem ter a preocupação de selecionar seu parceiro desta libidinagem pelo tom de pele, classe social ou gênero.
A pipoca, o mijo, o dendê e o incenso completam-se e nos revelam o aroma característico da Bahia miscigenada, nos revela também como nossos corpos humanos são sujos, frágeis, porem, transmitem toda uma atração física, com gestões grandiosos ou astutos, o dançar da gulosidade dar o tom certo para todos se perderem entre, dentro,na frente, atrás, ao lado do outro, o roçar de corpos, o enrolar frenético entre duas línguas, o passar da mão boba é incitado pela musica mundana dos bares, o verdadeiro altar de adoração do povo, esta musica mundana ficou no lugar da musica religiosa tão fúnebre e cativa que a noite anuncia que os santos dormem enquanto todos os demônios festeiros proliferam seus venenos de insultos e provocações carnais. Onde tudo isto poderia terminar? Numa cama, no mato, no banheiro químico, no meio da rua em qualquer lugar onde possa ouvir a voz pecaminosa da sexualidade, não aquela sexualidade de livros e folhetins, a sexualidade da mais pura experimentação. E como este festejo termina? Com uma rua vazia suja e abandonada desejosa do retorno de sua cotidianidade.
Será que quem freqüenta festas sincréticas realmente sabem o significado de todo o contexto? Será que importar saber o significado destas festas? Se tiver alguma importância, qual seria o significado social delas? Para que é preservado estas festas, para que finalidade? E o povo comum onde entram nesta estória toda? E as varias Instituições Políticas, Religiosas e Comercias como devem ser enxergadas no meio de tudo isto? Perguntas que suscitam outras perguntas que podem ou não nos levar á pensar manifestações populares de maneiras mais racional e menos dogmáticas/apaixonadas.
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